RIGIDEZ MENTAL

Quem mora em cidades populosas sabe o quão intenso é o movimento urbano. São ônibus, carros e motos disputando espaço nas pistas. Fora delas, pedestres também se acotovelam nas calçadas estreitas, entre camelôs, lojas e vendedores ambulantes. Cada um focado em suas próprias ideias, preso aos próprios pensamentos, muitas vezes abafados pelo som dos fones de ouvido. Indo e vindo em todas as direções e para os mais diversos destinos.

Em uma dessas idas e vindas, observei uma cena que prendeu minha atenção. O sinal estava verde, mas os carros formavam uma longa fila, imóveis, sem perspectiva imediata de saída. Olhei para o lado. Na calçada, uma moça permanecia em pé. Após alguns instantes, percebi que o sinal ficou vermelho. Então, corajosamente, com a segurança que só têm aqueles que não temem, ela colocou um dos pés na rua e iniciou sua travessia até o outro lado.

Parece até anedótico esse relato, mas ele me fez refletir sobre os motivos que levaram aquela moça a permanecer “presa”, quase fincada na calçada, até ser “libertada” magicamente pela cor vermelha do sinal de trânsito. Até que ponto nossos pensamentos e crenças nos aprisionam, a ponto de precisarmos de algo externo para nos mover? Que tipo de rigidez mental criamos? O que impediu aquela moça de ter a flexibilidade necessária para atravessar a rua enquanto o sinal ainda estava verde para os carros? Não lhe faltou observação — ela estava atenta, aguardando o fechamento do sinal — e, pelo mesmo motivo, percebeu que os veículos não se moviam. Por que, então, não atravessou?

Apesar de ser uma situação simples, ela é real. E, se essa moça não foi capaz de ter flexibilidade mental para atravessar a rua, fico imaginando em quantas outras situações mais complexas isso poderia se repetir.

A rigidez mental nos impede de sermos autênticos, pois nos faz evitar o novo e nos mantém presos a padrões que nos ensinaram. Em algum momento de sua vida, essa moça aprendeu que deveria atravessar a rua apenas quando o sinal estivesse vermelho para os carros — e isso está correto. Mas lhe faltou a capacidade de compreender que poderia tomar uma decisão por conta própria, que não dependia de um sinal para lhe dizer o que fazer.

Isso suscita novas perguntas: em que momento aprendemos a decidir? Essas decisões dependem apenas de nós? A flexibilidade é uma característica aprendida ou é fruto das experiências e escolhas feitas em momentos críticos? Podemos ser flexíveis em alguns aspectos e rígidos em outros?

Até onde, de fato, nós escolhemos?