Virtude na Política: um Chamado Espírita

Quando pensamos na política, muitas vezes nos sentimos desanimados. Parece que os honestos têm mais dificuldade em avançar, enquanto aqueles que usam da mentira, da manipulação e das promessas fáceis conseguem conquistar espaço com mais rapidez. Esse dilema não é novo: já em tempos antigos, Platão refletia sobre isso e dizia que o verdadeiro governante deveria ser aquele que ama a sabedoria e a justiça — o filósofo. Para ele, a solução não estava em vigiar de fora, mas em ter dentro de si o maior guardião de todos: a consciência.

O Espiritismo aprofunda essa ideia ao nos lembrar que a lei de Deus está escrita na consciência de cada um de nós. É ali que distinguimos o certo do errado, o justo do injusto. Quando escutamos essa voz interior e a seguimos, já não precisamos de vigilância externa, porque agimos pelo dever moral e não pelo medo de punição.

Kardec também nos ensina que a vida em sociedade é uma lei natural. Ninguém evolui sozinho. Assim como precisamos de casa, de alimento e de trabalho, também precisamos de justiça, amor e caridade para que a vida coletiva seja equilibrada. A política, nesse sentido, não deve ser entendida apenas como disputa de poder, mas como oportunidade de cooperação, em que cada pessoa, com seus dons e responsabilidades, contribui para o bem comum.

Quando olhamos para a nossa realidade, vemos crises de confiança, desigualdades, violência e corrupção. Mas, à luz da Doutrina Espírita, compreendemos que tudo isso faz parte da lei de causa e efeito. São consequências de escolhas que a humanidade fez e continua fazendo. Não são castigos, mas lições. As dores que sentimos como sociedade podem ser comparadas às dores de um parto: difíceis, às vezes longas, mas necessárias para que algo novo nasça.

E o que precisa nascer? Uma nova consciência. Uma política mais justa, mais fraterna, mais fiel à lei natural que nos chama ao amor. Esse nascimento depende de cada um de nós, não apenas dos governantes. Quando cultivamos a honestidade, a solidariedade e a responsabilidade no nosso dia a dia, estamos construindo a base de uma sociedade melhor.

Por isso, o Espiritismo tem como missão não apenas a transformação moral do indivíduo, mas também a transformação da sociedade. Não basta consolar corações — é preciso também iluminar consciências para que aprendamos a viver melhor em comunidade. E esse trabalho começa nas casas espíritas. É necessário que nossas instituições se tornem espaços de reflexão crítica, de diálogo fraterno e de estudo sobre os grandes desafios do nosso tempo.

Podemos e devemos debater, à luz da Doutrina, temas como: justiça social e solidariedade, desigualdade e fraternidade, ética e responsabilidade no uso das redes sociais, preservação do meio ambiente como dever espiritual, combate ao racismo e ao preconceito, o papel do voto consciente e a importância de escolhas políticas alinhadas com valores morais. Todos esses assuntos não são externos ao Espiritismo; pelo contrário, fazem parte de sua essência, pois dizem respeito às leis morais que regem a vida em sociedade. A virtude na política, portanto, não é um sonho distante. É um chamado para que deixemos nascer dentro de nós mesmos a consciência desperta, capaz de guiar nossas escolhas pessoais e coletivas. Mas também é um chamado para que o movimento espírita assuma seu papel transformador, formando cidadãos mais conscientes e comprometidos com a justiça, o amor e a caridade. Pela lei de causa e efeito, colheremos no futuro o fruto das sementes que plantarmos hoje — dentro e fora das casas espíritas.