O Progresso e a Angústia das Escolhas

O paradoxo de Buridan, célebre na filosofia, narra a cena de um animal colocado entre duas opções igualmente válidas — um balde de água e uma pilha de feno. Incapaz de decidir, ele morreria de fome e sede. Essa parábola ilustra a contradição de uma liberdade sem critérios: diante de alternativas idênticas, a indecisão leva à estagnação.

Contudo, se observarmos bem, esse dilema só faz sentido quando existe consciência da escolha. Um animal real, guiado pelo instinto, acabaria cedendo a um impulso fisiológico momentâneo. Não haveria paradoxo, mas apenas reação automática. A angústia nasce justamente quando a razão percebe que está diante de opções e precisa decidir.

É nesse ponto que a Doutrina Espírita nos oferece um olhar mais amplo. Para Allan Kardec, o livre-arbítrio é a faculdade de escolher, mas essa liberdade se amplia ou se restringe conforme o grau de evolução do Espírito. O ser humano não nasce plenamente livre; conquista essa liberdade na medida em que progride moral e intelectualmente.

Assim, podemos distinguir três momentos nesse processo:

  1. O domínio do instinto
    No início, o homem está mais próximo do animal. Suas escolhas são determinadas por necessidades imediatas e paixões. O livre-arbítrio existe em germe, mas a consciência ainda é limitada. Não há verdadeira angústia, porque não há plena percepção das alternativas.
  2. A angústia das escolhas
    Com o progresso, o Espírito passa a perceber o peso de suas decisões. A multiplicidade de opções pode paralisar, gerar dúvida e desgaste. Aqui, o paradoxo de Buridan ganha atualidade: diante de alternativas aparentemente equivalentes, a liberdade pode se transformar em prisão. A abundância de escolhas, em vez de libertar, oprime.
  3. A liberdade consciente
    No estágio mais elevado, o Espírito aprendeu a hierarquizar suas decisões, orientando-se pelo bem, pela responsabilidade e pela finalidade espiritual da vida. A indecisão já não domina, porque há clareza de critérios. O livre-arbítrio atinge sua plenitude: não é apenas a capacidade de escolher, mas de escolher bem.

Nessa trajetória, percebemos que a angústia das escolhas não é um erro, mas um marco do progresso. Ela sinaliza a transição entre a submissão ao instinto e a conquista da consciência plena. O paradoxo de Buridan, então, deixa de ser um impasse insolúvel e se torna um espelho das etapas do crescimento humano.

Em última análise, o Espiritismo ensina que a verdadeira liberdade não está na multiplicidade de opções, mas na maturidade espiritual de discernir o melhor caminho. A evolução transforma a angústia em direção, a indecisão em aprendizado, e a liberdade em instrumento de progresso.