Quando você se tornou uma pessoa melhor?

O paradoxo do monte de areia (também chamado de sorites) é uma antiga provocação filosófica sobre a vagueza das palavras. Imagine um monte de areia: se tiramos um grão, ele continua sendo um monte. Se tiramos outro, ainda é. Repetindo esse processo, chegamos a zero grãos — e pela lógica, ainda teríamos um “monte”. O absurdo aparece porque não existe um limite exato que nos diga: “a partir daqui, já não é mais um monte”.

Esse raciocínio pode ser invertido: se começamos com alguns grãos e vamos acumulando, em que momento exatamente eles passam a ser um monte? Não há um ponto preciso, e isso revela como nossa linguagem e nossos conceitos nem sempre conseguem capturar os processos contínuos da vida.

O mesmo acontece com a evolução espiritual. Assim como não sabemos quando um monte deixa de ser ou começa a ser monte, também não há um instante exato em que alguém “se torna” um espírito melhor. Cada pequena atitude, cada gesto, cada reflexão é como um grão que compõe um processo maior.

No Espiritismo original de Kardec, essa evolução não acontece em linha reta. Ela é múltipla, acontece em várias direções ao mesmo tempo e em velocidades diferentes. Por isso, não faz sentido esperar estar pronto para começar a ser bom. O caminho já é parte da transformação.

A Gestalt nos lembra que o todo é maior que a soma das partes. Um conjunto de atos e escolhas, ainda que pequenos, cria algo que vai muito além deles. A questão, então, se inverte: quando é que esses grãos se tornaram um monte?

👉 E aqui fica a provocação: quando é que você se tornou realmente uma pessoa melhor?
Não há resposta exata — e justamente por isso, a hora de ser bom é agora.